Ministérios: cinco tapas, três absurdos e uma dura verdade.
Votei em Dilma e enquanto houver sensatez em mim não me arrependerei sob nenhuma hipótese: a alternativa tucana nos obriga a lucidez, qualquer coisa que Dilma faça de pior não conseguirá alcançar a catástrofe política, social e econômica dos 8 anos de FHC. É uma questão objetiva, de números, de fatos, de senso histórico, de perceber como um governo em 20 anos no Estado mais rico do país consegue a proeza de beirar ao colapse hídrico em uma região bem longe do semi-árido brasileiro.
Dito isso, vamos para o presente de natal da dona Dilma…
Levy, Kassab, Kátia, Hélder Barbalho e Eliseu Padilha. Eis os cinco tapas no próprio eleitorado emitida pela nossa comandante-em-chefe. Realmente, fiz muita pesquisa e muita reflexão para poder entender esses cinco tapas com algum sentido operacional, tático ou estratégico, e por todo lado que leio e por todas as perspectivas especuladas, não tem jeito. A mera menção desses nomes revelam a outra face da moeda da rendição à direita: a traição à esquerda.
Houve ainda três absurdos.
O primeiro foi arrancar do Ministério do Esporte, as vésperas das Olimpíadas, o PCdoB, que foi impecável na condução da pasta até então. E jogar no colo de um tal George Hilton, ligado a igreja Universal, cujo único resultado será alimentar especulações de chapa-branca da rede Record nas Olimpíadas no Rio, que terá que escolher entre o descrédito da audiência e a oposição raivosa. Um teólogo ligado a igreja Universal no Ministério do Esporte, retirando Aldo que agiu com total eficiência, lisura e sucesso, que belo absurdo.
O segundo absurdo é Cid Gomes na educação. Sou do Ceará, acompanho com proximidade o itinerário da família Ferreira Gomes. Sem a menor dúvida, Cid Gomes é democrático, republicano, dialogador, muito mais que o temperamental, ambicioso e desleal Ciro Gomes, seu irmão. Em todos os momentos em que foi posta a prova a sua lealdade, algo que no contexto político não é algo trivial, como visto com a traição de Marina Silva e do PSB, Cid Gomes passou com honras. Mas Cid foi notabilizado pela sua oposiçãos aos professores estaduais, lançando a famigerada frase que os professores deviam trabalhar por amor, que foi seu maior desgaste social. Cid Gomes poderia ser escolhido para qualquer pasta, menos Educação.
O terceiro absurdo, e como todo absurdo se dá pela total carência de lógica, é indicar Jaques Wagner para ministro da defesa. A primeira parte do absurdo é a saída do Celso Amorim, inaceitável. Se o pedido de saída não foi dele, realmente é absurdo esse ato por todos seus serviços prestados. A segunda parte é indicar Jaques Wagner para a defesa, não duvido em nenhum minuto dos dotes políticos de Jaques Wagner, e é justamente por isso que ele poderia receber qualquer ministério, o da Educação, por exemplo. Mas qual a razão de colocar um ex-sindicalista petista no ministério da defesa em pleno histeria udenista cujo mote era a ameaça de uma “república sindical”? Isso não alimentará a paranoia udenista? Nada impede de que faça um excelente trabalho, apenas não consigo achar nenhuma oportunidade e conveniência.
Mas agora vem a dura verdade.
A imprensa conservadora irá explorar, como sempre, cada desgaste para apartar Dilma de suas bases. Por mais traídos que estejamos, não podemos cair nessa armadilha. Não podemos deixar que depois de tanta luta nos tornemos bucha de canhão para aqueles que nos combateram e cujo combatemos. O PT como alternativa conciliadora para as mudanças sociais está exaurindo seu potencial, temos que lutar para criar uma alternativa radical que não vire oportunidades de golpes e fortalecimento da direita.
Não há muitas brechas, não há sequer reflexão nos partidos para atentar para esse dilema e poder avançar nas breves oportunidades que surgirem. O governo Dilma deu um grande passo a direita, de certa forma parece um Gorbatchev fazendo concessões liberalistas na economia que acabaram agravando a crise na URSS, a queda da nossa Gorbatchev nos dará um Yeltsin, não nos esqueçamos disso. Yeltsin com suas privatizações cavalares derrubou mais de 50% do PIB da Rússia (isto é um estrago maior do que todas as guerras sofridas pela Rússia) e apesar disso ou por isso, se por um lado já não é mais tratado como herói nos opinólogos dos EUA, ainda está longe de ser considerado o vilão como é tratado entre os russos, se Yeltsin destruiu a esquerda russa, isso não pode ser visto como algo ruim para eles, nem com a economia russa destruída.
Então, companheiros, o verbo é resistir até que as condições nos permitam avançar. Nem que isso dure 52 anos, como durou o isolamento diplomático imposto pelos EUA e ainda dura a guerra econômica contra Cuba eufemizada de “embargo” e por mais de 20 vezes condenada por mais 80% da Assembléia da ONU.
Hoje, as possibilidades futuras estão ainda mais próximas do que estavam em 2002, a luta continua, como sempre…