A ironia Trump…
Porque Trump irá vencer e a direita brasileira vai pirar
Os conservadores brasileiros (ou udenistas) estão em apuros porque não sabem se amam ou odeiam Trump, pois, de um lado a sua igreja (também conhecida como grande mídia) lança maldições contra ele, mas, por outro lado, ele representa a “direita” na contenda americana. Trump x Hillary é um bom exemplo de que o conflito nunca foi entre esquerda x direita, o grande capital de Wall Street está declaradamente do lado de Hillary, a suposta esquerda nas eleições americanas, por isso Trump virou um alvo.
O “populismo” do milionário Trump se aproxima muito mais das aspirações do povo americano, do que o “elitismo” pro-Wall Street de Hillary Clinton, o que gerou o assombroso e colossal enviesamento da imprensa, não só da liberal, mas também, oh ironia, da conservadora pró-republicana.
Contudo, uma vez vitorioso, como seria previsível, a direita não tinha outra opção a não ser se unir, e o resultado da rebeldia tola de Ted Cruz foi o último suspiro fatal do anti-trumpismo no GOP. Mas a moral da história de Trump é desesperadora para a máquina midiática pró-Wall Street, a massiva tentativa de ridicularizar e esteriotipar Trump poderá funcionar nas eleições gerais a favor dele tal como nas prévias do GOP.
O cúmulo da suntuosa canalhice da mídia americana ocorreu com Laura Ingraham, que fez o discurso mais forte do RNC, inclusive, em uma cena impressionante, colocou a imensa platéia do RNC a se voltar contra o camarote da imprensa. O que fez a “mídia” em resposta? Recortou um frame de seu discurso em que sua mão estendida sugeria uma saudação nazista. Claro que um tão baixo artifício só sugere um alto desespero contra argumentos que não podem refutar sobre a má fé da mídia.
Trump equivale a um Brexit, onde a imprensa atuou partidariamente, lançando todo tipo de desinformação contra a vitória que ocorreu, prometendo certeza aritmética na vitória do Bremain. A diferença é que contra Trump, parte da plutocracia está a seu lado, e toda direita agora está unidade, e a esquerda pode se dividir se Trump souber explorar as colossais contradições do clintonismo: o que significa que há mais recursos para Trump do que jamais haveria para o Brexit.
Se Trump adotar o populismo, algo que Wall Street teme verdadeiramente, pois funcionou no Brexit, irá isolar Hillary contra sua base, pois se tornará a candidata elitista ou terá de dobrar a aposta no populismo, o que assustará seus financiadores.
A HILLARY É FRACA? ENTÃO ENFRAQUEÇA MAIS AINDA O TRUMP
As acusações de misógino, racista, xenófobo, entre outros elogios, apenas escondem as duas acusações que realmente enloquecem o estabilishment de direita e da esquerda americana, ele é anti-neocon e anti-neoliberal. Ele promete mais protecionismo econômico e mais isolacionismo militar, essas duas posturas representam a ameaça que eles não podem acusar Trump, pois lhe traria mais voto. A demonização de Trump é algo que ultrapassa todo o bom senso e senso do ridículo. E por isso ele ganhará.
Se Trump fosse um pouco mais retórico, tal como um Ted Cruz, ou tivesse um pouco mais de disciplina e melhores acessores, eu diria que Trump repetiria a vitória esmagadora que Reagan aplicou. Os fatos estão a seu favor, desde uma oponente fraca, quanto a fragilidade dos argumentos anti-trump, que são pura propaganda e desinformação. Mas Trump é realmente burro e a não ser que se torne um pouco mais inteligente para desmontar o fraco discurso cretino do estabilishment, ele será derrotado por si mesmo. Porque Hillary é uma candidatura extraordinariamente fraca, a candidata que mais da metade dos americanos não acreditam, conforme pesquisas, e que tem um passivo de contradições que não sobreviveria a um debate decente.
Não é possível tornar Hillary, a candidata pró-Wall Street, mais palatável, mais simpática, mais confiável. Não é possível apagar seu passado de incoerências e mentiras, seu discurso anti-LGBT e pró-LGBT, seu discurso pró-vida e pró-choice. Nada disso é “deletável”. A estratégia é tornar Trump tão detestável, que evitar ele se torne a questão mais importante, do que escolher Hillary. É bom lembrar que ela quase perdeu a indicação do partido competindo contra um desconhecido socialista, mesmo tendo todo o dinheiro e toda a mídia ao seu lado, e recorrendo mesmo a fraude em alguns casos.
LÓGICA DE PREDICADO: SE TRUMP É RUIM, HILLARY É PIOR
A única razão pelo qual um governo Trump é significativamente menos ruim que um de Hillary, apesar de ambos serem, no mínimo, um retrocesso para a humanidade, é que um governo Hillary irá derivar ainda mais para a direita o partido Democrata, que foi sob o primeiro governo Clinton expurgou do partido os social-democratas, enquanto, que o desastre de seu intervencionismo militar e liberalismo econômico de seu governo, que seu passado como secretária de Estado e o resultado da austeridade no mundo comprovam, irá abrir vantagens para candidatos republicanos, que não tem outro discurso além de mais guerra e mais mercado.
Trump seria um governo fraco, nacionalmente dividido e internacionalmente impopular (seria como um George W. Bush), que daria boas oportunidades para o crescimento de uma oposição socialista combativa como a do Bernie Sanders e neutralizaria opositores meia-boca como Hillary. A derrota de Clinton poderia ser uma excelente oportunidade para enterrar o “new labor” americano (ou neoliberalismo de esquerda). Não subestimo que a imprensa americana se converta ao trumpismo no dia seguinte, mas não seria tão automático para a opinião pública depois de tanto anti-trumpismo.
Ao final, na melhor das hipóteses, um governo Clinton poderá estender a devastação da plutocracia no mundo (também conhecido como globalização) por dois ou quatro mandatos alternados no estabilishment bipartidário. Isto é, se trata de algo entre 8-16 anos de retrocesso global. Enquanto um frágil governo Trump pode fornecer uma bem vinda revolução política made-in-america em no máximo 4 anos. Eis a questão.
Os riscos de um Trump se tornar um Hitler demandaria uma transformação extraordinária de postura e discurso, o que não é totalmente impossível se lembrarmos que o George W. Bush foi eleito pela primeira vez com um discurso anti-guerra contra “excepcionalismo americano” de Al Gore.
Se Trump, tendo toda a oposição da mídia, de direita e de esquerda, toda a oposição de seu próprio partido, de toda a oposição da plutocracia de ambos os lados, venceu. Melhores condições terá agora, e com o Brexit, e com um mínimo de inteligencia (o que é pedir muito para ele), vencerá muito fácil. Trump tem o timing certo, tem os recursos, tem a conjuntura.
Se Trump não ceder aos neocons e manter o discurso de anti-intervencionismo militar, se conseguir apelar de modo convincente com um discurso anti-Wall Street, se manter o discurso protecionista contra o “globalismo”, ele irá ganhar realmente fácil. Mas caso escolha se render a narrativa pró-mercado e militarista, ao discurso anti-rússia, Hillary tem mais recursos e está melhor preparada para esse debate e ele irá perder fácil. Se Trump combater o neoconservadorismo e neoliberalismo, e que sabemos, será apenas no discurso, ele desarma completamente Hillary e colocará Hillary contra seu próprio eleitorado e essa é a chance de Trump.
Mas tem de combinar antes com o próprio GOP.