A dinâmica da Catalunha

A Catalunha vai a “referendo inconstitucional” em primeiro de Outubro para decidir se continua espanhol ou se será um novo país europeu.

Ao cessar todas as vias legais de um referendo separatista, mesmo quando as pesquisas davam vitória aos unionistas, o governo espanhol de centro-direita, apoiado pela centro-esquerda, selou seu destino ao declarar oficialmente que os catalães só teriam a via ilegal para alcançar seu objetivo. O governo espanhol levantou bem alto seu espantalho judicial e foi para sua guerra quixotesca contra terroristas eleitores inconstitucionais.

Se só metade dos catalães forem às urnas, então terão de mobilizar um contingente policial capaz de deter mais de 3 milhões de eleitores. Contudo, essa é a ironia, Rajoy perderá tudo se ganhar a sua guerra. Pois, caso o governo catalão realize e vença o referendo, ele terá pela frente uma batalha campal midiática, policial e judicial para fazer valer as urnas, será uma vitória de Pirro. Contudo, se o bufão de Madri conseguir qualquer tipo de vitória, seja por inviabilizar o referendo, ou mesmo com a vitória dos unionistas no referendo (o que o colocará em um paradoxo político), os separatistas crescerão no eleitorado dado os ressentimentos provocados. Os separatistas não só estarão eleitoralmente mais fortes, como podem mesmo varrer do parlamento catalão todos os partidos não-separatistas.

O autoritarismo judicial do governo espanhol pariu o “separatismo inconstitucional”, um precedente embriagado de hubrys que transformou a “inconstitucionalidade” em uma condenação inofensiva com efeito reverso. Rajoy, ao endurecer a Catalunha, deu a prerrogativa para o endurecimento da Catalunha contra a Espanha. Assim, não só os separatistas no mundo se fortaleceram nesse novo Brexit, como terão na “inconstitucionalidade” não mais uma barreira imaginária, mas uma plataforma politicamente testada e segura para a causa separatista.

Como todo nacionalismo, tudo começa como uma crise capitalista acrítica. Assim nasce os nacionalismos conservadores, como o nacionalismo xenofóbico, que culpa o roubo de emprego por imigrantes, e o nacionalismo separatista, que culpa o roubo de riqueza pelos cofres federais. Contudo, se ambos são formas conservadoras para desviar a crítica ao capital, por outro lado, ambos prejudicam o capital, ao dificultar a entrada de mão de obra barata (imigrantes) e criar novas barreiras alfandegárias (novas fronteiras). Se os globalistas se esvaem nas urnas, sem abrir mão de sua versão nacionalista (nacionalismo imperialista), por outro lado, mantém poder totalitário nas mídias, são, de fato, a classe dominante mundial. Porém, como sempre, sua capacidade de sabotar uma alternativa socialista, nessa e em outras crises se resvala em formas nacionalistas, que, ao final, apenas agrava a causa: a crise econômica.

Ou pelo menos é assim até que surja um Sanders ou Corbyn…

Então, viva a Catalunha!? Sim, viva…

 
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