A crônica falta que nos faz um Pasquim nos dia de hoje…

O Pasquim foi a maior trincheira de resistência a ditadura no campo do jornalismo, reunindo chargistas geniais e intelectuais bem humorados, simplesmente revolucionou a imprensa brasileira, em meio a batalha inglória contra a ditadura.

Não sou dessa época, assisti alguns documentários e pesquisei material, e vi o estado da arte da nossa ginga intelectual e nossa brasilidade genial. Mas conheci a segunda versão, o Pasquim21, graças ao grande Ziraldo que até então só conhecia por um especial e mágico livro da minha infância, o Menino Maluquinho.

O Pasquim21 fez minha cabeça, me deu as coordenadas que me fariam, pela primeira vez, a ver o Brasil como um país belo, autêntico e cheio de possibilidades, me abriu as portas para grandes autores, belas ideias e generosas visões. Muitos dos preconceitos inferiorizantes pelo qual somos doutrinados midiaticamente desde quando nascemos, com o Pasquim21 obtive a minha emancipação que até hoje é o melhor que levo comigo.

Mas ao que pude perceber, ou é pelo menos como os próprios pasquinenses parecem interpretar, a vitória da Lula parecia fechar o ciclo do segundo Pasquim, assim como a queda da ditadura fez o mesmo com o primeiro. O jornal estava organicamente postado em oposição a, respectivamente, o governo militar e o governo neoliberal (unido ao partido renascente da ditadura, PFL), parecia que seu sentido existencial sumia justamente na vitória, pois o Pasquim assumia uma postura anti-governo.

Mas o Pasquim hoje faz ainda mais sentido para nossa época, nunca estivemos tão dramaticamente carentes da genialidade e criatividade combativa e festiva. O grande êxito do Conversa Afiada, apesar de ter uma estrutura infinitamente menor que o Pasquim, demonstra essa carência. De que adianta se opor a ditadura e não se opor a mentalidade da ditadura? É nobre se opor a ARENA, mas não se opor a nova UDN que a formou? Quem foi o pai do golpe militar, o pai da ARENA, não foi a própria UDN? E não vivemos um crescimento do udenismo? Basta observar as passeatas pedindo Intervenção Militar, ou mesmo a tentativa fracassada de fazer renascer, com grande apoio midiático, as marchas da Família.

A batalha é agora ou nunca, espero que os antigos e novos pasquinenses não tenham que esperar mais uma ditadura para levantar as barricadas. O terceiro Pasquim seria o definitivo, “o imperecível”, onde se oporia ao ninho de cobra por onde todas as ditaduras, golpes e babaquices nasceram: o udenismo. Essa espécie de cartilha do pedantismo da ignorância, essa truculência vendida como coragem, essa imbecilidade vendida como ousadia, essa caretice vendida como modernidade. A UDN está posta a nu, são as mesmas palavras de ordem, são os mesmos pretextos, são os mesmos atos-falhos. Muitos conhecidos meus, menos politizados e com menos gosto pela leitura, querem ouvir o outro lado, muitos são seduzidos pelo udenismo porque é somente o que ouvem, não há um outro lado sendo dito, não há um Pasquim, fora alguns modestos blogueiros a denunciar como impotente Cassandras as mentiras udenistas do dia a dia.

Em meu apelo, apelo para que o acaso coloque essa mensagem nas vistas de alguns pasquinenses e quem sabe, despertem neles a mesma alegre combatividade com que no passado me abriram os olhos e me ensinaram, como dizia um certo filósofo, a aprender a ser o aquilo que se é.

Senão, putsgrila!

 
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