Até tu, Trump?

Os udenistas estão em surto com a corrida presidencial americana: Um socialista crescendo? Um conservador sendo linchado? Crítica em ambos os lados contra os ricos? Oh, os EUA viraram comunistas!

É uma mistura de ironia e paradoxo, porque sendo Trump um outsider, simplesmente não há fonte convencional midiática americana para salvar a cara de nossa midiocracia reacionária. Um medíocre da Veja, inclusive, chega a acusar a “imprensa esquerdista brasileira” (Folha, Globo) por fazer uma cobertura negativa de Trump, será para este cretino a National Review também é “imprensa esquerdista brasileira” por se opor ao Trump.

Alguém que chama a Globo ou Folha de esquerdista só pode ter sofrido uma lobotomia ou não saber absolutamente nada do que escreve. Ao contrário do que pensa Veja, para os conservadores reais americanos o Trump é, na verdade, um esquerdista encubado, por ter apoiado os Democratas no passado e ter proximidade com os Clintons.

Mas se para a Veja, o Trump é um vítima das esquerdas brasileiras, para a Globo ele é um esquerdista extermista! E por quê? Oh deus! Porque Mike Tyson, “que tem uma tatuagem do Che Guevara”, apoia Trump. Será que para a Globo o conservador Macri é também comunista por admirar Maradona, “que tem uma tatuagem de Che Guevara”?

Eu imagino a pandemia de risos na midia americana se chega aos ouvidos dela que uma grande tv brasileira está sugerindo que o mega-empresário Trump é comunista por conta da tatuagem de um de seus apoiadores!

TRUMP, O ABISMO ENTRE A PROPAGANDA E REALIDADE

A campanha bipartidária anti-Trump da mídia americana se explica por uma conjunção incomum: os Democratas atacam Trump por ser seu provável oponente, os republicanos atacam Trump porque é um outsider. A campanha bipartidária anti-Trump pode ser resumida como:

Se a verdade importasse nas mídias, o único argumento sobrevivente seria o último, porque, de fato, não houve sequer um debate em que ele não fosse vaiado, enquanto Jeb Bush e Marco Rubio, não saíssem aclamados pela público e pela crítica. Estranho não? Existe algo de podre no Reino da Gringolândia ou há mais surpresas entre as grandes mídias e as pesquisas eleitorais do que supõe a nossa vã filosofia.

A hipocrisia da campanha anti-Trump pela mídia liberal americana se resume ao fato dele ser um moderado em comparação ao GOP. Desde Bush II o endurecimento contra os imigrantes ilegais era política oficial republicana, chegou a retrucar que “somos um país de imigrantes, mas também um país de leis”. Ted Cruz inclusive acusa o Trump de ser mole, por admitir que os imigrantes ilegais retornem depois de regularizados. Quem ataca Ted Cruz por isso? Clara que não, já que ele é uma das esperanças para derrubar Trump.

O suposto custo faraônico do muro do Trump é uma pichincha proporcionalmente a um país como Israel e seu Muro de Netanyahu. Inclusive, recentemente, sem nenhuma medo de parecer pro-Trump, defendeu seu muro, não contra “estrupadores” e “traficantes”, até porque esses ainda são seres humanos, mas contras “bestas”, com a diferença de não fazer a diferenciação de Trump que reconheceu desde sempre que haviam muitos ilegais imigrantes que seriam pessoas de bem.

Deportar 11 milhões de ilegais é absurdo e inviável? O próprio Ted Cruz revelou que no governo Bill Clinton foram 12 milhões deportados e no governo Bush II foram 10 milhões. Washington Post imediatamente foi a campo para salvar essa bandeira anti-trump alegando que os números de Ted consideram também a saída voluntária e desconsidera os retornos. Mas oh, caro Washington Post, se Trump assustar milhões de imigrantes ilegais, os levando a migrar voluntariamente, você acha que seria menos custoso ou mais? Você acha que ele não preferiria assim?

TRUMP, CAUSA E EFEITO

Não tenho simpatia política pelo Trump, estamos em campos opostos, mas o Trump, e mais ainda o fracasso bipartidário colossal da campanha anti-trump, revela fenômenos socio-políticos interessantes no EUA:

Não Trump, mas as causas que o viabilizam, são promissoras para os EUA e o mundo. Quando as principais forças de sustentação do status-quo não conseguem mais afastar candidatos indesejados, então é uma boa notícia.

Somos tentados a avaliar um governo apenas por suas ações, mas são nas reações que provoca que define seu governo. Por exemplo, o governo Obama, as reações que gerou na sociedade e no regime político, radicalizando o Partido Republicano com práticas obstrucionistas, definiu tanto o seu próprio governo quanto a realidade de hoje. Assim, um governo Trump deve ser avaliado não pelas ações que promete, mas pelas reações que provocará.

Um governo Trump, encarnando o governo da plutocracia, será uma ótima oportunidade de mobilização das forças de esquerda americana e com os democratas na oposição e o legado de Bernie Sanders nessas eleições, irá gerar apoio oficial e criar uma mobilização social não apenas anti-capitalista, mas socialista abertamente.

Uma vez nomeado, o anti-trumpismo republicanos se converterá em anti-clintonismo e seus antigos adversários, como já fez Cris Christie, se tornarão apoiadores. Se no momento Hillary, tendo toda a imprensa liberal a seu favor e contando com a imprensa bipartidária contra Trump, ainda perde dele, o que ocorrerá quando Trump receber esse alívio e Hillary finalmente sentir um pouco de oposição real, e não a oposição de um socialista regado a micro-doações sem nenhuma mídia a seu lado.

As chances para a oposição democrata e socialista em uma eleição de Trump são excelentes, com a eleição de Hillary significa imaginar que seu inevitável desastre favoreça um conservadorismo ainda mais truculento que o de Trump, considerando que ela atuará no campo conservador. Ainda que possamos sonhar com uma leve possibilidade de que a campanha de Bernie Sanders provoque uma corrente interna ou externa aos neoliberais de Hillary que possa crescer com sua queda.

A MACRO-IRONIA DA MICRO-HISTÓRIA

Nunca imaginei ver alguém ser vítima da máquina de linchamento midiática americana por ser um ultra-conservador ou coisa que o valha, basta ver como o conservadorismo mitônamo de Hillary Clinton continua intocável, além dos outros conservadores malucos do GOP. E tudo isso apenas por não fazer parte da panelinha do partido. Realmente, é de se dizer com um certo riso tragicômico: até tu, Trump?

 
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