Breaking Bad: algo diferente de tudo que você já assitiu

Nossos olhos viciados de heróis, anti-heróis, clichês, estereótipos, final felizes, explosões, Game of Thrones, etc não estão preparados, não adianta tentar, você não vai conseguir capitará-lo em seus preconceitos televisivos…

E isso lhe intriga, você pensa: ele vai cair em um clichê, ele não vai resistir, não é possível! Uma mercadoria televisiva não pode ser tão adulta, tão arriscada, nem tão diferente. Ele vai se render. Você chega a imaginar o produtor arrancando os cabelos e gritando no set, vociferando, alucinado: isso não vende! cadê a donzela, cadê o herói, cadê os efeitos especiais! E isso te intriga e te leva para o episódio seguinte e o seguinte.

Não pode se dizer que Breaking Bad sai puro de cada episódio, mas é incrível, mas a impressão é essa, sua autenticidade parece ser inflexível, e você dobra o ceticismo no episódio seguinte. De repente você vê e episódio acabou, no entanto, você acabou de assistir um episódio inteiro com dois caras presos em um trailer, costurado apenas por bons diálogos e excelentes interpretações: diferente, ótimo, original, nada de fogos de artifícios, ou super-poderes, ou previsibilidade, nada.

Breaking Bad, talvez, e só talvez, vacile em um clichê raramente (ainda estou terminando a 2a temporada), mas de fato o Breaking Bad pode ser assistido como uma lista de curta-metragens de produção independente, cinema de garagem misturado com cinema de arte, sempre disposto a lhe provar o quanto original ele ainda pode ser.

Breaking Bad começa assim, insólito, calmo, atormentado e sereno, humano, imprevisível, mais densamente plausível, sempre passando uma rasteira nos clichês. Ele é como um filme de reviravoltas, mas não na narrativa, nos diálogos, na caracterização, na sua permanente assimetria. Ele é como uma guerrilha permanente, ágil, lúdica, nos resgatando de toneladas de clichês que estamos soterrados.

Te surpreende, te emociona, te inspira, te inquieta, te faz pensar em si, no mundo, no outro, na vida. Você olha para o Walt e você não vê Clark Quent, você não vê 007, nem mesmo um Jason Bourne, nem mal, nem bem, nem certo, nem errado, vê um homem dilacerado, apodrecendo, dentro de si, lutando por dentro, esse é o grande mistério. O professor Walt está quase distante, quase desistindo, ele parece nunca estar, mas no entanto, ele é o protagonista, o mais improvável protagonista que você jamais imaginaria.

O problema da droga com profunda franqueza, nem o maniqueísmo de Hank escapa, pois Hank é um policial real, ele acredita e sofre com suas ilusões, tão plausível e tão improvável, ao lado dele está seu pacato cunhado traficante, sem nenhuma dose de simplificação. A droga é apresentada como um câncer social que só pode ser tratado, nunca curado, e isso é sentido pelo Walter, em sua pele, em si mesmo.

O câncer é a sociedade que o rodeia, com seus professores mal pagos, sua juventude alienada, no dinheiro que corrompe tudo, em policiais numa guerra inútil e sem fim contra as drogas, tudo apodrece placidamente, como um Walter White, o Heisenberg é o verdadeiro nele.

A um dado momento parece que estão todos mentindo para si mesmo, ou mesmo mentindo entre si, como o Walter, que mente, mas mente porque está atormentado e apavorado em deixar a sua família na miséria.

Mas isso é fácil de escrever, em algum lugar alguns atores, roteiristas, diretores, etc conseguiram destrinchar essa obra operando harmonicamente como uma grande orquestra tocando o Réquiem de Mozart no deserto do New Mexico, Albuquerque.

Breaking Bad é um passo para o inimaginável, ele não criou um gênero, ele colapsou todos. Que gênero se enquadra Breaking Bad? Drama, thriller, suspense, policial, ação, psicológico. Aliás, quem é o Walter? Quem é você Walter realmente? Que tipo de vício está nos trazendo?

Só sei de uma coisa: o seu gênero é o da genialidade.

 
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