O curioso deturpador anti-marxista do Marx deturpado

Aqui farei a crítica, parte a parte, mas sem se misturar com a perspectiva suína do artigo original, então, é importante se ler até o fim.

Faço a refutação do artigo “Marx deturpado?” do blog PorcoCapitalista

Vamos lá, um, por um…

Em sua citação do Manifesto do Partido Comunista de Marx ele destaca:

“sua missão é destruir todas as garantias e segurança da propriedade privada até aqui existentes”

A frase contextualizada é:

“Todas as classes que no passado conquistaram o Poder, trataram de consolidar a situação adquirida submetendo a sociedade às suas condições de apropriação. Os proletários não podem apoderar-se das forças produtivas sociais senão abolindo o modo e apropriação que era próprio a estas e, por conseguinte, todo modo de apropriação em vigor até hoje. Os proletários nada têm de seu a salvaguardar; sua missão é destruir todas as garantias e segurança da propriedade privada até aqui existentes”.

Logo a missão do proletariado de “destruir todas as garantias e segurança privada até aqui existentes” não é uma lição de Marx ou do comunismo, mas da história da classe burguesa em sua tomada pelo poder (como na Revolução Inglesa, Revolução Americana, Revolução Francesa, etc, etc).

E outra passagem o suíno cita em destaque:

“o proletariado de cada pais deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia.”

E começa a afirmar, a partir dessa frase, que Marx não defendia a revolução mundial, mas uma espécie de socialismo nacional stalinista. Nessa mesma citação Marx já declara que “a luta do proletariado contra a burguesia embora não seja na essência uma luta nacional, reveste-se contudo dessa forma nos primeiros tempos”. Ou seja, a revolução inicia nacionalmente, para então se tornar INTER-NACIONAL. Até um porco poderia deduzir daí a clara diferença entre ser um internacionalista e ser um “globalista”.

Em seguida o porco cita a seguinte passagem:

“Esboçando em linhas gerais as fases do desenvolvimento proletário, descrevemos a história da guerra civil, mais ou menos oculta, que lavra na sociedade atual, até a hora em que essa guerra explode numa revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia”.

Se uma guerra civil não for violenta, ela não é guerra. A guerra civil americana, inglesa, etc. todas foram, como não podiam deixar de ser, violentas. A Revolução de Outubro derramou tão pouco sangue, diferente da primeira Revolução Inglesa e da Revolução Francesa, que foi acusada de ter sido um golpe, pois o governo Kerenski estava tão isolado e desmoralizado que simplesmente fugiu no início da insurreição. O que derramou muito sangue foi a guerra civil na Rússia provocada para derrubar os bolcheviques com apoio aberto da Inglaterra, EUA, França, etc.

Ele adiante cita Marx na parte em que diz que “a burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros”. Na sua lógica suína, replica que foi o marxismo que produziu seu coveiro na Rússia. Primeiro, Marx utiliza o termo coveiro para se referir ao proletariado, a proletarização crescente sob o capitalismo. Sobre a cova do marxismo, vejamos…

O retrocesso capitalista na Rússia, com as privatizações generalizadas de Yeltsen, derrubou mais de 50% do PIB, a maior queda de PIB já registrada por uma economia. Nunca mais a Rússia nem chegou perto do status de segunda maior economia do mundo que um dia foi sob a URSS, foi substituída nessa posição por outro país comunista, a China.

Dada sua porca capacidade lógica, ele deduz que “a vantagem de uma compreensão nítida” seria o mesmo que “condutores teóricos” dos demais. Se os demais acreditam que os comunistas tem um “compreensão nítida” eles seriam também comunistas, e não “os demais”. E em um exemplo tosco sobre a Polônia, ensaia uma espécie de ironia afirmando que “essa era a democracia socialista” estipulada por Marx.

Daí vemos o quanto ele sabe de Marx. Marx NUNCA defendeu qualquer “democracia socialista”, nem mesmo socialismos (basta ver a crítica do socialismo no próprio Manifesto Comunista). Marx defendeu o comunismo. Marx não inventou revoluções, revoluções são passagens violentas, a Revolução Industrial, por exemplo. O que Marx conclui, para seu deleite filisteu, sim, é que essa passagem deve se realizar, necessariamente, através de uma DITADURA DO PROLETARIADO. Mas vamos ver bem o que diz Marx sobre o seu conceito de ditadura do proletariado:

  1. a Comuna de Paris, com sufrágio universal revogável para todos os cargos, inclusive, os juízes, limitando o salário do funcionalismo público ao salário médio do operário, foi, considerado um exemplo de Ditadura do Proletariado. Logo, ditadura do proletariado, para Marx, não significa não ter eleições, ou não ter liberdades, etc, etc. Não significa um “estado de exceção”, mas somente um governo EXCLUSIVO da classe trabalhadora, que, sendo a maioria, só poderia ter a forma “democrática”.

  2. em 18 de Brumário de Luis Bonaparte, quando todos os partidos burgueses conseguem afastar do parlamento os partidos não burgueses, isto é, os partidos pequeno-burgueses e proletários, Marx declara que nesse instante, mesmo ainda com parlamento, mesmo com “eleições formais”, mesmo sem regime de exceção, se havia instaurado uma ditadura da burguesia, e por quê? Porque nesse momento todo o poder estava em mãos EXCLUSIVAS da burguesia.

  3. certa esquerda gosta de fetichizar a democracia, mas a direita, por mais supostamente liberal que seja, nunca em nenhum momento titubou em apoiar torturas, golpes, ditaduras, censuras, etc. vide Pinochet, Hitler, Castelo Branco, Salazar, etc. A Arábia Saudita que ninguém, nem mesmo dentro dela, afirma ser uma democracia, um dos últimos regimes de monarquia absolutista do mundo, que realiza amputações públicas, acusada continuamente por organizações de direitos humanos (sem nenhuma repercussão na imprensa americana), tem nos EUA, em ambos os partidos e em toda imprensa, total apoio, porque? Porque muitas empresas americanas ganham dinheiro lá. Já a Venezuela que até hoje não levantaram nenhuma objeção contra suas eleições, vivem acusando de não seguir “valores democráticos”. Claro, que para a burguesia, a democracia não importa, o que importa são os valores democráticos bem cotados na bolsa de valores.

Por fim, o suíno é atingido por um verdadeiro choque e escândalo, que ele crê ser uma grande acusação contra Marx, ao citar: “os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: a abolição da propriedade privada”.

Vamos colocar em contexto para entender o que o suíno não entendeu.

“A Revolução Francesa, por exemplo, aboliu a propriedade feudal em proveito da propriedade burguesa. O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade geral, mas a abolição da propriedade burguesa. Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classes, na exploração de uns pelos outros. Neste sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: a abolição da propriedade privada”.

Ou seja, o suíno tirou do contexto e conclui o oposto, que Marx defendia a abolição da propriedade em geral, quando este defende a abolição da propriedade capitalista. E Marx o faz não arbitrariamente, mas como lição histórica, olha só, de uma revolução burguesa!

Continua o suíno citando suinamente: “Mas, o trabalho do proletário, o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário? De nenhum modo”. Ele interrompe a citação no meio do parágrafo, e declara, “mentira”! Vejamos agora a citação completa, sem censuras:

“Mas, o trabalho do proletário, o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário? De nenhum modo. Cria o capital, isto é, a propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente”.

Difícil para um suíno conseguir refutar um parágrafo desses, então, ele recorta um pedaço para tentar algum êxito. Vejamos se ele teve êxito. Ele argumenta a partir da citação recortada que em 1900 no interior de SP haviam apenas caipiras e hoje existem milhões de empresários bem sucedidos. Vejamos…

  1. cadê as fontes estatísticas desses fatídicos milhões de empresários bem sucedidos que brotaram do nada, mecanicamente?

  2. confunde o caipira, um camponês, com um proletário, sem entender o que significam economicamente nem um, nem outro. Sem saber nem mesmo o trivial, de que são socialmente opostos.

Mas sobre outro recorte malandro do suíno, coloquemos já de partida toda a citação, já deu para entender bem o método do porquinho:

“Assim, quando o capital é transformado em propriedade comum, pertencente a todos os membros da sociedade, não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade social. O que se transformou foi apenas o caráter social da propriedade. Esta perde seu caráter de classe.”

Na duas últimas frases censuradas pelo suíno, fica claro que Marx explicava como a transformação residia no caráter de classe da propriedade, mas recortada, ele a transforma em uma profecia não realizada.

Em outra citação de Marx do porquinho, se diz que “na sociedade comunista, o trabalho acumulado é sempre um meio de ampliar, enriquecer e melhorar, cada vez mais a existência dos trabalhadores”, e replica que é mentira, citando uma nova taxonomia sociológica que denomina “sociedades marxistas-socialistas-comunistas”, vejamos…

  1. como URSS, mesmo sob retrocesso stalinista, chegou a se tornar a segunda maior economia do mundo, mesmo com a estagnação era uma das maiores. Hoje, depois do retrocesso capitalista, foi substituído pela China comunista, que por acaso, a economia que mais cresce no mundo.

  2. como a teoria de que um país isolado era “socialista” e não uma sociedade em transição ou ditadura do proletariado, era justamente a doutrina do “socialismo de um país só” de Stalin. Qualquer um que corrobore com isso é um stalinista ou um idiota útil do stalinismo.

Somente um capitalista suíno seria capaz de cortar uma citação no meio de uma frase, daí temos a imagem de sua porca honestidade intelectual: “Alega-se ainda que, com a abolição da propriedade privada, toda a atividade cessaria, uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo. Se isso fosse verdade,”

Acredite, ele terminou a citação exatamente assim, no meio do argumento do autor. É lamentável refutar um refutador tão tosco. Mas, vejamos a frase completa para vermos o que o porquinho não queria que fosse visto:

“Alega-se ainda que, com a abolição da propriedade privada, toda a atividade cessaria, uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo. Se isso fosse verdade, há muito que a sociedade burguesa teria sucumbido à ociosidade, pois que os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham. Toda a objeção se reduz a essa tautologia: não haverá mais trabalho assalariado quando não mais existir capital”.

Adiante do que está acima, mais nada a declarar sobre isso.

Adiante cita a passagem de que “quando os antagonismos de classes, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações”, colocando como oposição aos conflitos sino-soviéticos (que muito direitalha diz que foi fingido) e o “massacre dos tchecos na Primavera de Praga” (quantos tchecos morreram em tal massacre?). Cita também Tito por ter tido uma mão de ferro tal contra os iugoslavos, que em resposta eles conviviam pacificamente.

Para acabar com antagonismos de classes se deve chegar a uma sociedade sem classes, e essa seria a última fase do comunismo, que nem mesmo os stalinistas afirmavam ter chegado. Por fim, no mesmo parágrafo onde ele tenta refutar Marx apresentando o conflito sino-soviético, ele tentar provar o mesmo com a inexistência de conflitos na Iugoslávia durante o seu período “socialista”, eis um magnífico exemplo de uma lógica porca.

Ele fala com certo desespero a parte em que Marx diz que o proletariado deve “centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado”. E se escandaliza com a “violação despótica do direito de propriedade”, para concluir que Marx é um déspota. Violar “o direito de propriedade”, eis o despotismo comunista! Quando se trata de guerras, exploração, escravidão, golpes de Estado, entoxicar uma população inteira (Guerra do Ópio), duas bombas nucleares com milhares de baixas civis, trabalho infantil, etc, etc, tudo bem, mais violar a propriedade, que coisa terrível para um liberal!

Depois ele proclama algumas sugestões de Marx como “10 Mandamentos do Marxismo”, vejamos detidamente o que Marx diz já no primeiro prefácio da edição de 1872 do citado Manifesto sobre tais “mandamentos”:

“Embora as condições muito se tenham alterado nos últimos vinte e cinco anos, os princípios gerais desenvolvidos neste Manifesto conservam, grosso modo, ainda hoje a sua plena correção. Aqui e além seria de melhorar um pormenor ou outro. A aplicação prática destes princípios — o próprio Manifesto o declara — dependerá sempre e em toda a parte das circunstâncias historicamente existentes, e por isso não se atribui de modo nenhum qualquer peso particular às medidas revolucionárias propostas no fim da secção II. Este passo teria sido hoje, em muitos aspectos, redigido de modo diferente. Face ao imenso desenvolvimento da grande indústria nos últimos vinte e cinco anos e, com ele, ao progresso da organização do partido da classe operária, face às experiências práticas, primeiro da revolução de Fevereiro, e muito mais ainda da Comuna de Paris (12) — na qual pela primeira vez o proletariado deteve o poder político durante dois meses —, este programa está hoje, num passo ou noutro, antiquado”.

Talvez o porquinho entenda agora a distinção de um socialismo qualquer para um “socialismo científico” que aprende com a história e se desenvolve a partir dela, empiricamente. Eu sei, eu sei, ele não quer aprender. Ele prefere apenas ser um orgulhoso porco capitalista e ignorante.

 
0
Kudos
 
0
Kudos

Now read this

A burra, patética e irracional campanha Anti-Corbyn

Nos últimos dias a imprensa européia em geral e a britânica em particular entrou em desarranjo total, gritando, gemendo e chorando contra a provável e irreversível vitória de Corbyn. Qual o argumento unânime: a vitória de Corbyn irá... Continue →