PSDB + UDN = Bolsonaro

A escalada reacionária, iniciada no segundo turno de 2010 por Serra contra a Dilma, sim, tudo começou ali, tem em Reinaldo Azevedo o seu braço na imprensa e em Gilmar Mendes seu braço no STF. Tudo foi articulado e baseado na esquizofrênica e ingênua hipótese de que conseguiriam canalizar essa escalada direitista em votos no PSDB.

Porque sim, o que as pesquisas dizem é que nem Lula, nem Aécio, nem Ciro, nem Serra podem deter Bolsonaro. E se livrar de qualquer ilusão da vitória de Lula é a condição vital para qualquer possibilidade de sobrevivência política. E mesmo que Bolsonaro seja detido, por prisão ou por um acidente politicamente conveniente, como foi a morte de Eduardo Campos, o bolsonarismo sobreviverá.

Quando os serristas do PSDB se deram conta, no segundo turno de 2010, que o PT havia ocupado também a centro-direita, através das bem estabelecidas técnicas fisiológicas tucanas, só viram uma solução: dar um passo a direita, exumar a UDN. O PSDB, para sua própria sobrevivência política, precisava de toda forma dinamitar essa coalizão e o vale-tudo foi a tática que culminaria no ilegítimo de Temer.

Aparentemente, eles venceram. Aparentemente, o PSDB teria na sua frente um caminho muito fácil para vencer 2018. Era repetir o mesmo itinerário de sua última vitória em 1992: impeachment do presidente + governo provisório do PMDB + eleição de um tucano. Porém, mas se na aparência o ano de 1992 parecia se repetir pontualmente, na essência era 1964 que emergia.

Antes da vitória de Lula em 2002, o anti-petismo se baseava em uma propaganda terrorista sobre um suposto governo catastrófico do PT. Como a catástrofe prometida não veio, o PT crescera na opinião pública, e em reação, nasce com os serristas o udenismo tucano. A primeira parte da história já realizavam a um bom tempo: cooptam ex-comunistas para propaganda anti-comunista, como bem ensinara o ex-comunista Carlos Lacerda, mas a segunda parte esqueceram, termina com militares no poder, seja pelo golpe, seja pelo voto, no caso de Bolsonaro, por ambos.

Serra e Azevedo, os mais notórios ex-comunistas anti-comunistas, já se vitimizam com o mesmo linchamento moral e ódio político que promoveram sem escrúpulos. Agora, querem “salvar a política”, depois de a demonizarem, agora criticam a extrema-direita, depois de a viabilizar, agora pedem despolitização do judiciário, após Gilmar Mendes.

Reinaldo Azevedo foi um protagonista nesse teatro. Foi o primeiro jornalista da grande imprensa a apoiar e fornecer credibilidade a figuras até então folclóricas, como Bolsonaro, Olavo de Carvalho, entre outros que agora ele ataca. Seus novos odiadores de extrema-direita são seus doutrinados e ex-cúmplices ideológicos, e que agora, espumando por conta de seu anti-bolsonarismo tucano, levanta argumentos bem “azevedianos”, utilizando seu passado esquerdista, comunista e petista como mácula fulminante para seu irrestrito linchamento moral.

O próprio Reinaldo já percebera que caiu na própria armadilha, mas sobretudo, percebera que não tem saídas, a não ser torcer para que o tucano Gilmar Mendes prenda o mais rápido possível Bolsonaro.

Esse Richelieu de José Serra, depois de doutrinar ódio político contra qualquer coisa que não estivesse à direita no espectro, já não conseguia escamotear suas contradições frente a seus doutrinados. Sua fingida isenção se baseava em se negar tucano pelo fato do PSDB ser de centro-esquerda, tal falácia apenas agravou a raiva da turba, após perceberem seu metódico relativismo moral frente as corrupções tucanas. Para a turba, ele não era apenas um traidor político da “anti-corrupção”, mas mais grave, um traidor ideológico do “anti-esquerdismo”.

Mas tudo mudou, o mundo de Azevedo, Serra e Gilmar evaporou com os índices de popularidade do regime PMDB-PSDB. Agora, segundo as últimas pesquisas, Bolsonaro já ultrapassara todos os possíveis e ilustrados candidatos tucanos: amigos, a inflexão já ocorrera.

A turba começa a se desgarrar de seus currais, devora os Azevedos, os PSDBs, as imprensas, etc. Não se satisfazem apenas com ex-esquerdistas anti-esquerdistas, querem direitistas puro-sangue (palavras do ex-vejista Constantino). Contra a grande mídia, ocorre o agravante da guerra civil entre Trump (republicanos) e as mídias (democratas) estar sendo importada por alinhamento ideológico. A principal arma de poder dessa elite, não só perdera o eleitorado de esquerda, mas agora o de direita, e vegeta em uma faixa minguante de centristas ruminantes A Lava Jato é o menor dos males do regime Temer-Tucano, o desgarramento do gado direitista de seu curral eleitoral é o drama principal. Reinaldo não tem mais pontes com os bolsonaristas, se render a ele agora não lhe traria nenhum bolsonarista de volta e ainda lhe custaria seus atuais apoiantes da “liberal antifa”. Porém, seu maior impedimento é mais trivial: ele é pago para ser serrista.

Aqui, mais uma vez, a história se repete como farsa.

O que difere Carlos Lacerda do que ocorre hoje, é sua escala intelectual e por unir em uma só pessoa José Serra e Reinaldo Azevedo, era um político e jornalista. Lacerda, um ex-comunista anti-comunista, também lá, para fins eleitorais, após o golpe de 1964, vê seus sonhos presidenciais frustrados e ensaia uma frente ampla pró-democracia com seus ex-adversários. Resultado: assassinado pela ditadura. Lacerda, ao menos, não teve como atenuante o que esses dois cretinos hemi-lacerdistas tiveram de sobra: as lições de um precedente histórico.

O PSDB queria reproduzir o filme de 1992. Acabaram voltando mais atrás, uma edição pateticamente farsesca de 1964: não como um golpe militar, mas como um golpe civil, não com um militar no poder pela força, mas com um militar no poder pelo voto. Bolsonaro é fruto do golpe civil udenista, mas seu futuro governo militar estará limpo de qualquer ilegitimidade democrática, graças ao trabalho sujo do PSDB-PMDB.

Prender Bolsonaro não será tão fácil. Se utilizarem seus comentários sobre estupro, que é a aposta serrista, por mais cristalina que seja a lei, sua prisão será maciçamente politizada, por ter uma petista como alvo do insulto.

Prender Bolsonaro não vai o deter politicamente, como não deteve Hitler, sua influência só irá crescer. Já no outro lado do espectro, o mesmo não vale para Lula. Se é certo que Fidel foi preso, ele só tomara o poder revolucionariamente, enquanto Mussolini e Hitler tomaram o poder por meios totalmente democráticos. A história demonstra ostensivamente que a tomada democrática do poder pela extrema-direta estabelece governos muito mais reacionários dos que em suas variantes golpistas, como podemos perceber claramente comparando os governos de Hitler e Mussolini com os governos de Franco e Salazar.

Que dificuldade Bolsonaro teria em ser como Fujimori no Peru e fechar o congresso? Bolsonaro é um declarado saudosista da ditadura, seu eleitor sabe disso, portanto, não tem nenhum escrúpulo democrático. Se ele fechar o congresso, acusando todos os políticos de serem corruptos, a tal “opinião pública” se oporia? Se o STF tentasse o deter, seria muito fácil para ele acusar o STF de esquerdista, por ter sido indicado por petistas/esquerdistas e tucanos/centro-esquerdistas. E qual o poder de fato do STF em se fazer cumprir? Por outro lado, o Bolsonaro teria a opinião pública, o exército, o poder executivo, o erário federal e nenhum escrúpulo.

O PSDB está em uma arapuca, não pode evitar um combate forte contra Bolsonaro, já que ele rouba diretamente seu eleitorado. Ao mesmo tempo, essa forte oposição os ameaça de cadeia em um futuro governo Bolsonaro vingativo e recheado de recursos como Lava Jata, Lista de Furnas, etc. Contudo, seu maior motivo em se livrar do PSDB será o de aniquilar seu maior concorrente dentro do eleitorado conservador. O PSDB só tem uma saída, virar sublegenda do Bolsonaro. Mesmo se conseguirem escapar da cadeia mais uma vez, graças as simpatias do judiciário e MP, sua mera oposição ao Bolsonaro irá dinamitar na sua base eleitoral que não perdoarão qualquer oposição as políticas conservadoras de Bolsonaro.

E a reação popular, os sindicatos, os movimentos sociais, não fariam nada? Não. Por que foram sabotados e desgastados, tanto pela máquina udenista, quanto pelo governo petista que só poderia manter sua heterogênea base no congresso desmobilizando e despolitizando suas bases nas ruas.

O PSDB, ironicamente, agora está sendo aniquilado pelo direitismo que criou para garantir sua sobrevivência política. Pela primeira vez desde a vitória do Lula em 2002, o PSDB saíra do segundo turno, em breve, serão enxotados pela turba no poder e na política.

Subestimar a direita é algo que todo o resto do espectro político brasileiro teima em repetir. Essa é a razão pelo qual Bolsonaro será presidente. Na ditadura, ainda que cinicamente, se negava a prática de censura e de tortura, Bolsonaro a defende e a justifica, pois Bolsonaro é a ditadura sem escrúpulos, sem máscaras e sem freios.

E mais uma vez, graças aos udenistas…

 
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