PÓS-BREXIT: O FUTURO DO PROJETO EUROPEU…
BREXIT: CENTRO-DIREITA VS EXTREMA-DIREITA
Não se deixe enganar, o que culminou no Brexit foi apenas um conflito paroquial de uma banda do espectro político europeu: a direita. Uma extrema-direita xenófobo/populista apoiada pelas classes médias e uma centro-direita elitista/financeirista apoiada pelas classes altas,. Mesmo tendo uma mártir nessa luta com o esfaqueamento de uma trabalhista por um nacionalista, a esquerda é mera espectadora nesse debate.
O que está em causa? Cameron x Boris, Bush x Trump, elitistas x populistas, globalistas x nacionalistas, altlanticistas x soberanistas, centro-direita x extrema-direita? Há muitas digitais semânticas nesse “debate”: a crítica da “xenofobia” para uns, é apenas defesa do fluxo de mão de obra barata dos imigrantes. O “roubo de empregos” para outros, nada mais é do que explorar o ressentimento étnico para desviar a culpa da crise para os verdadeiros culpados, que são também seus financiadores, os bancos.
Essas duas verdades formam um pacto de silêncio mais ou menos tácito entre as alas conservadoras, com lampejos de exceções aqui e eli. Pois o populismo conservador não pode ser tão populista a ponto de expor os interesses de seus financiadores, enquanto que o elitismo não pode ser tão elitista, a ponto de insultar seus eleitores com seus reais interesses. E ambos devem ofuscar a causa da crise, originado por bancos, políticas fiscais pró-negócios, encolhimento do Wellfare State, etc, essa é sua causa comum.
OS DILEMAS VICERAIS DO PÓS-BREXIT
A UE tem duas opções: não fazer nada (geralmente é o que faz melhor), deixando a libra cair com o pânico do Brexit, tornando através dessa “competitividade monetária” um caso de sucesso separatista (e pouco vai adiantar contra as leis da natureza a propaganda terrorista sobre o desastre da queda da Libra), ou, como fizeram com o Syriza, retaliar o Reino Unido para tornar o governo Brexit em um “exemplo a não ser seguido” e estancar o efeito dominó que levaria a UE ao fim (o efeito já começou, segundo o noticiário pró-mercado).
Apesar da paralisia pantagruélica dos burocratas da UE não ser subestimável, o dilema real tem um nome: Corbyn. A oposição que surgirá sob as cinzas do governo Brexit retaliado, uma coalizão da centro-direita de Boris e da extrema-direita de Nígel, seria liderada por um radical que resistiu e sobreviveu a mais brutal campanha de difamação midiática dos “mercadistas”. Corbyn é politicamente o mais forte europeísta entre todos os britânicos, não há nenhum político que levantaria mais alto e com mais vigor a bandeira da União Européia do que ele, mas é anti-OTAN, é anti-mercado, isto é, é socialista, assim, para os “representantes e representados da UE”, ele é ideologicamente muito mais anti-UE do que tudo que possam propagandear como o “fim do mundo”.
UNIÃO EUROPÉIA PARA QUEM?
Chagamos então a raiz: se a UE representasse quem supostamente representa, não haveria ressonância do discurso de “tomar de volta”, porque o problema da UE é de representação, mas não como uma questão de “ajustar a máquina de propaganda psicológica” como qualquer cretino do “marketing político” iria vaticinar. Porque mesmo a mais poderosa máquina de propaganda da história, que foi o nazismo, não resistiu contra a realidade. O problema é quem a UE representa, e não é a Europa, mas o capital financeiro. E mesmo que um pro-brexit xenófobo, que não entende as causas, ele sente seus sintomas e reage a ele. Um governo Brexit resolverá? Com certeza não, o governo Brexit é ainda mais alinhado aos mercados que a média do parlamento europeu, que é levemente temperado com socialistas, mas para os que queriam mudança, Brexit era a única disponível.
A verdadeira espada de Dámocles que essa a farsesca guerra contra o Brexit revelou são os próprios mercados, porque como temiam, com o Brexit, a aliança entre a plutocracia financeira e a burocracia européia se rompeu, pois nesse novo contexto, a plutocracia irá preferir evitar um governo socialista no Reino Unido do que salvar a UE, farão de tudo para evitar um governo que colocaria em causa o Consenso de Washington e a OTAN no coração do ocidente, e para isso, terão não só de evitar o fracasso do governo Brexit, condição necessária para salvar a UE, mas terá de lhe garantir um bom sucesso, pois esse governo de centro-direita com extrema-direita seria a última e única trincheira contra Corbyn, considerando que a difamação contra ele não funcionou.
UNIÃO EUROPÉIA, MUDAR OU MORRER… PROVAVELMENTE MORRER
Preparem seus ouvidos, a máquina de propaganda vai gritar, espernear, berrar, chorar, sem fim. E haverá tanto “choro e ranger de dentes” midiáticos, que se fossem minimamente verdade, provocaria um dilúvio tal que se tornaria uma heresia bíblica. E todo esse falatório será apenas para não falar da raiz do problema, a censura sobre o controle da bancocracia sobre a UE. E assim como juraram sobre a derrota do Brexit e outras mentiras, a cada surto, a cada desinformação, esse goebbleianos aproximarão a opinião européia cada vez mais da verdade, a verdade de que do que são: uma mentira, a verdade de que se prostituem para o capital financeiro.
Em outras palavras, para a UE sobreviver, ela precisa romper com seus representados atuais e se voltar para representação de que deveriam desde sempre servir, a maioria dos europeus, isto é, se dedicar aos problemas e as necessidades dos trabalhadores europeus. O contrário que fazem ao impor políticas de austeridade fiscais e “flexibilizações” trabalhistas.
Tal mudança seria possível? Com o projeto europeu em colisão com a plutocracia sobre o destino do governo Brexit, com a plutocracia em salvar Boris para deter Corbyn, e a UE precisando derrotar Boris para sobreviver, tudo o que os medíocres euro-burocratas provavelmente farão é caçar Corbyn, para eliminar o medo que selaria a aliança entre plutocracia e o governo Brexit. E sim, Boris sabe disso, e vai usar o “espectro vermelho” para salvar a seu governo e render toda a centro-direita européia, é tão velha essa estratégia quando óbvio o seu desenlace.
E quando Trump estiver eleito, depois de deterem Sanders, o único que conseguiria derrotá-lo, contra todas as mesmas “verdades absolutas” jornalísticas que também propagavam a derrota do Brexit, talvez tenham uma pequena amostra do que significará para a Europa se a plutocracia for bem sucedida em salvar o governo Brexit e deter Corbyn.
A mudança necessária na União Européia exigiria o impossível, mas o que temos no momento é o oposto disso, é Merkel, então, good bye UE.
“Et sit tibi terra levis”.