Trump, ou a contra-revolução da contra-revolução.

Em lógica, a negação da negação é uma afirmação. Hillary firmou uma contra-revolução que esmagou com fraude e conluio a revolução defendida abertamente por Bernie Sanders, cujo Obama foi um prólogo em 2008. Então veio Trump, ele leu os desejos reprimidos e deu voz, e sobretudo, fez o que lhe consagrou a vitória, não recuou. Não recuou sequer quando acusavam de ser agente russo, por mais absurda que fosse, toda imprensa repetia como verdade. E Trump venceu, venceu porque não traiu aqueles que queriam um candidato que interrompesse a escalada de uma guerra nuclear contra a Rússia e não temesse enfrentar “o estabilishment”.

Mas como foi com o Obama, uma coisa é o que o eleitor quer ouvir, outra coisa é o que o eleito vai fazer. Todos os olhos estão agora sob o secretariado dele, porque foi no secretariado de Obama que foi selado sua traição eleitoral, colocando neoconservadores apesar de eleito como um pacifista. Talvez Trump possa ainda disfarçar sua cooptação no secretariado, mas somente nos primeiros 100 dias veremos de quanta verdade, naquilo que realmente é anti-estabilishment em seu governo.

Existe muitos impedimentos, o próprio partido, a mídia, Wall Street, todos contra suas políticas defendidas na campanha. Como candidato, não tinha nada a perder, poderia deixar de ganhar a presidência, mas ganhava a projeção, nada a perder. Mas agora ele tem algo a perder, o governo. Seu discurso de vitória já foi um banho de agua fria, elogiando Hillary e Obama, apesar de sua retórica furiosa na campanha. Acredito que mesmo antes de anunciar o seu secretariado, no seu discurso ele já cooptou.

A grande vitória civilizacional foi que, com Trump, a imprensa mundial foi desmascarada para todos os eleitores conservadores, coisa que os eleitores de esquerda já sabiam. O eleitor de direita descobriu que a imprensa mente, desinforma e é descaradamente partidária, as superstições a respeito da imprensa caíram, rasgou o véu institucional e se mostrou o que é, uma máquina de propaganda orientada ao lucro.

A máquina de dominação da classe dominante, como bem define Noam Chomsky, não é a polícia ou exército, isso está no passado. Nas modernas sociedades são os meios de comunicação, e eles já perderam o eleitor de esquerda, agora, com Trump, perde o de direita. Só lhe resta o estúpido, assustadiço e superficial eleitor de centro, será que alguém da centro-esquerda ainda acredita nessa superstição?

Talvez o que resta seja isso, os lentos eleitores da centro-direita, se é que eles existem, e se existem, talvez não tenham número para eleger um síndico, e se ainda tem, quanto tempo esse ornitorrinco poderá resistir? A imprensa é uma organização terrorista que não consegue mais pagar seus mercenários jornalistas e suas prostitutas opinólogas, porque não descobriu ainda, mas a internet a enterrou no entulho da história, os balanços de sua receita publicitária são mais eloquentes do que eu.

E quanto menos receita tem, mais barata se vende, e assim, sucessiva e firmemente, a imprensa vai sendo drenada para o esgoto da história.

O fato que Trump representa uma maciça insurgência contra as elites, mesmo quando utilizaram todo o seu poder em favor de uma candidata. A vitória de Obama rasgou o véu racial da dominação, esse véu caiu, um negro presidente poderia ser do estabilishment, não era a cor da pele que o impedia, acredito que essa segunda rasgará o véu social, será descoberto na traição de Trump que a clivagem não é mais maioria e minorias, não é mais estabilishment e anti-estabilishment, é Bernie Sanders, trabalhadores e capitalistas. Assim como na Rússia uma revolução que primeiro derrubou o absolutismo, e uma segunda que derrubou a monarquia, e só na terceira ficou o caráter de classe da dominação, e veio uma revolução que derrubou o poder capitalista, assim será nos EUA?

Não sei dizer, para todos os efeitos, mesmo olhando em perspectiva, quem poderia dizer na Rússia de 1916 que poderia ocorrer uma revolução como a de 1917? Era impossível! O mesmo vale para todas revoluções, e o mesmo para esses tímidos ensaios que foram a eleição de Obama e Trump. Deixemos a história responder.

 
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O curioso deturpador anti-marxista do Marx deturpado

Aqui farei a crítica, parte a parte, mas sem se misturar com a perspectiva suína do artigo original, então, é importante se ler até o fim. Faço a refutação do artigo “Marx deturpado?” do blog PorcoCapitalista Vamos lá, um, por um… Em sua... Continue →