Udenismos, mídias e as esquerdas

Nunca as mídias se tornaram tão corrompidas como agora, ainda que esse fenômeno alcance tons catastróficos na America Latina, onde as elites são o ápice da perversão, da canalhice e da burrice. Por outro lado, ainda que intelectuais como Chomsky e Baudrillard trabalhem mais profundamente na questão, já em Marx a imprensa era desmascarada como órgãos de classe.

Eis o óbvio: são empresas capitalistas, o que tem a ser estranhado? A rede Globo aceitando o avanço das esquerdas em nome da democracia? Ou não somos nós os ingênuos por querer que a oligarquia midiática transmigrem sua consciência para a perspectiva do trabalhador em nome do jornalismo?

Qualquer vassalo mal ajambrado da imprensa evacuaria falácias de como o capitalismo é fonte de toda a civilização, liberdade e democracia pelo qual, em nome dele, toda civilização, liberdade e democracia deve ser destruído para que sobrevivam apenas em sua fonte. Reconhece o estilo? Não são todos assim? Faz sentido? O que importa? A questão é: cadê a réplica? Eles são uma espécie de “monólogos da vagina” da nossa burguesia, uma vagina falando de si mesma para si mesma através de si mesma (essa peça, junto com o Caco Antibes, é um bem representativo ícone da era FHC).

A luta de classes emerge nas entrelinhas. Interpretar esses fenômenos ignorando essa perspectiva é deprimente, o PT encurralado entre a governabilidade e o golpe. A Ley de Medios, regulação, controle social? Não é falado para os quatro ventos que toda UE já tem isso, e o que conseguiram? Merkel!? Cameron!? Rajoy!? Ou pior, Hollande!? Nós, latino-americanos midiaticamente monopolizados estamos melhor.

Esse reductio ad absurdam serve apenas para alertar sobre os exageros nessa questão, a realidade não é um mero resultado de batalha de propaganda, se assim fosse, considerando o poder descomunal de munição midiática da direita, a América Latina seria a meca do reacionarismo. Claro, essas forças atuam, influenciam, distorcem, impactam. Mas não tem poderes demiúrgicos, nem são tão bons em provocar pandemias psicóticas, ainda que insistam neuroticamente.

Soltar suspiros de alívios quando a Folha pratica algum jornalismo ou a Globo pisa no freio, ou quando toda mídia capitalista parte para o golpe e a mobilização golpista fracassa? Nossa abordagem deveria ser o oposto disso, aumentar nosso capital político para cada mentira denunciada, explicar que o que fazem não é absurdo, é a lógica, é o que eles são, o risco maior é quando tais mídias buscam se travestir eventualmente de alguma diversidade para encenar neutralidade, isso sim é o risco para nós.

Quando as mídias capitalistas se rendem ao jornalismo, significa que estão em posição de fraqueza, que estão perdendo terreno, mercado, credibilidade, influência. Isto é, querem acumular poder.

A questão primeira é criar as nossas mídias, com a internet nunca os meios de comunicação se tornaram tão acessíveis e baratos. Organizar algo competitivo não é uma quimera, a esquerda tem grandes intelectuais, tem, portanto, conteúdo, por outro lado, precisa de criar fontes de financiamentos, porque um jornalista precisa comer. Porque não a união de todas as esquerdas? Ou será que continuaremos colaborando com o Divide Et Impera do neo-colonialismo latino-americano?

A segunda questão é o jornalismo em si. Precisamos separar a crítica do pseudo-jornalismo capitalista com o jornalismo em si, da mesma forma que o anti-capitalismo não significa destruir fábricas, mas passar a propriedade delas aos trabalhadores. Ainda que seja humanamente compreensível essa reação, temos que evitar que nos tornemos ludistas do jornalismo.

Minha sugestão é criar uma cooperativa de jornalistas, atentando sempre para que a propriedade da cooperativa dependa da relação contratual (participação nos lucros, mas a propriedade não é hereditária). As esquerdas (sindicatos, movimentos, partidos) entrariam como patrocinadores, o patrocínio lhe daria uma seção de páginas amarelas (poderia ser chamada páginas vermelhas) onde realizariam seus informes. Dessa forma, ganhariam um espaço para realizar sua comunicação, transformando os custos que hoje tem com seus jornais em financiamento da cooperativa, ao mesmo tempo que ganhariam mais visibilidade por se associarem a um grande jornal. A vinculação entre sindicatos e a cooperativa de jornalistas solidificaria um perfil editorial de esquerda no jornal. Claro que haverá reação das mídias capitalistas… mas será justamente essa reação que dará ao jornal seu batismo de fogo, com boas chances de forjar nele um longevo espírito combativo.

O anti-udenismo é o único ponto em comum que a esquerda pode se basear para essa plataforma, claro, isso se dá por mérito do udenismo por ser um discurso cujo ponto em comum é o anti-esquerdismo.

Não resolverá lei de meios, controle social ou regulação, não resolverá EBC, não resolverá “socialismo legislativo”, não resolverá blogueiros-David lutando contra midias-Golias. Quem dera que os Davids sempre vencessem os Golias da vida! Mas o que a esquerda brasileira precisa fazer está a um palmo do seu nariz, não há nenhuma genialidade ou criatividade assombrosa em minha sugestão, pelo contrário, com um pouco de mobilização, em pouco tempo essa sugestão vai se tornar tímida demais.

 
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